domingo, 4 de outubro de 2009

Caminhos Metodológicos teatro-educação

O Projeto orientado pelo professor Sérgio Farias é a continuação de outros três projetos de Iniciação Científica. As preocupações com as questões que se referem à arte-educação e à criação de caminhos metodológicos que possam ajudar professores de teatro na construção pedagógica de suas aulas, sempre foram do interesse deste grupo de pesquisa.
Ao observar cursos de teatro em diversas Ong e escolas da rede oficial de ensino, foi possível perceber que, de modo geral, estes segmentos apresentavam uma carência no que diz respeito ao estudo da dramaturgia, elemento que, para muitos estudiosos, é o alicerce de qualquer treinamento para a formação do ator. Seja entendida aqui “Dramaturgia” não só como texto dramático ecrito, mas principalmente a habilidade de organizar idéias num encadeamento que tenha uma coerência interna, princípio que também caracteriza o gênero dramático dramizada pelos elementos que de de organizar ido pelo projeto.
Em 2004 a pesquisa de título: “A DRAMATURGIA E OS SENTIDOS EXPRESSOS POR JOVENS ESPECTADORES DE TEATRO NA BAHIA” identificou os impactos na recepção causados pela apreciação da estrutura dramática de narrar uma história em jovens que, em sua maioria, nunca haviam tido contato com esta literatura. Este projeto possibilitou a sistematização de uma metodologia para ser usada por professores de teatro, metodologia esta, que busca orientar pedagogicamente para a inclusão do estudo do texto dramático nas aulas de Teatro.
Este projeto caracteriza-se como uma Pesquisa-Ação, na medida em que se dispõe a fazer investigações em campo com o objetivo de fundamentar o conhecimento gerado, buscando, interferir diretamente na comunidade escolhida, e seja uma pesquisa ligada à educação e à instrumentalização dos sujeitos envolvidos. As estratégias de coleta de dados foram entrevistas orais gravadas em áudio com roteiros semi-estruturados, entrevistas realizadas por escrito, laboratórios de produção de textos e aulas práticas de teatro, com observação direta das ações dos participantes.

Figura 1 . Olhos de aluna na cena-resultado da pesquisa IC 2005/2006 "Água Viva ", criação colaborativa, articulação do Método da Análise Ativa de Stanislavski com a "Metodologia Espiral".

Como ponto de partida, o atual projeto incluiu o estudo acerca de uma outra metodologia também criada com o interesse de analisar a dramaturgia, neste caso em específico o texto dramático, que também pode ser adotada como caminho metodológico em sala de aula: o “Método da Análise Ativa”. Este Método foi criado pelo encenador russo Constantin Stanislavski (1863 -1938), e consiste na sistematização de técnicas para um estudo do texto que seja menos racional e reflexivo e mais prático e artístico, pois, afinal, como ele mesmo cita em seu livro A criação de um papel: “Se o resultado de uma análise científica é o pensamento, o da análise artística é o sentimento”. (STANISLAVSKI, 1995, p. 24). O exercício da Análise Ativa, é, em verdade, não só um amparo à compreensão de um texto, mas também um instrumento que pode aperfeiçoar a compreensão global do indivíduo frente ao mundo.
Levando ainda em consideração os aspectos emotivos da produção da arte, nossa hipótese central era de que os exercícios pertinentes ao método da Análise Ativa iam promover o desenvolvimento do educando nos domínios cognitivo, psicomotor e afetivo articulando suas habilidades de prestar atenção, dar respostas, valorar, organizar sistema de valores e formular sua visão de mundo e filosofia de vida, caracterkizando-se.


PLANO DE TRABALHO
Da Recepção à Expressão, um caminho possível

Ferdinando Taviani em artigo publicado em “A Arte Secreta do ator”, propõe: “Um corolário: para fazer bom teatro deve-se ter coisas interessantes a dizer e deve-se saber como fazê-las e ser compreendido” (BARBA, 1995, p. 256). A proposta deste plano de trabalho é fazer com que as “coisas interessantes” ditas sejam uma expressão da criação e da recepção de jovens que atuam no teatro baiano em instituições de ensino fomais e não-formais.
O plano de trabalho do bolsista Roberto Ives Abreu Schettini leva em consideração a articulação de dois elementos aparentemente distintos: recepção e expressão. Este diz respeito à produção da arte, aquele se refere à apreciação da arte. Esses elementos são ao menos aparentemente distintos, porque é possível, refletir sobre a criação do artista observando que sua inventividade está intimamente ligada a suas experiências e apreensões que faz do mundo, e, por que não, de outras obras de arte. Neste aspecto o esquema recepção para expressão, constitui um sistema para a produção da arte.
O objetivo deste plano de trabalho dentro do projeto era fomentar a criação que partisse da recepção. Dois tipos de produtos eram esperados: produção de encenação e produção de textos dramáticos. Tudo a partir da aplicação do Método da Análise Ativa. O importante em campo seria fomentar que a partir da recepção afetiva da arte, o educando fosse capaz de criar obras de arte experimentando a livre fluência como meio de expressão.
Como resultados alcançados neste plano de trabalho, aqui estão representadas as sistematizações e reflexões acerca desta criação artística que encontra na recepção o ponto de partida para a expressividade, conectando este processo de criação com o desenvolvimento do domínio afetivo dos sujeitos em questão.

A METODOLOGIA CÍCLICA PARA AULAS DE DRAMATURGIA EM GRUPOS DE TEATRO

PIBIC 2005 / 2006
Iniciação Científica
Bolsistas: Roberto de Abreu Schettini, Flávia Cristiana da Silva e Juliane do Rosário Melo
Orientação: Sérgio Farias

Geramos uma metodologia, um caminho pedagógico para nortear o trabalho de professores, diretores e lideranças de grupos de teatro, que tenham interesse em garimpar a seara da dramaturgia. Um caminho espiral. Chega a um suposto final, e retoma novamente seu princípio, o cerne de partida das atividades: o texto teatral. É, em verdade, um processo, uma matriz pedagógica para que se encaminhem aulas de teatro voltadas para o conhecimento do gênero dramático. Segue a descrição:

Este caminho tem início com a leitura individual do texto pelo educando em casa, como passo à frente, uma leitura coletiva entre os educandos, em seguida a produção de uma leitura dramática com estes mesmos indivíduos diante de um público, a produção de uma encenação com o texto que foi lido, a análise deste grupo enquanto espectador dessa obra, e a produção de um texto dramático que tenha como ponto de partida as análises feitas pelo grupo como espectador do texto encenado. A partir deste ponto o caminho volta a ser percorrido do início. Lê-se o texto dramático que foi produzido, faz-se uma leitura dramática entre os educandos para um público, elabora-se a encenação deste mesmo texto dramático, analisa-se a encenação como espectadores, dessa análise, produz-se um outro texto dramático, e repete-se o caminho.

Então:

1. Leitura Individual em casa (primeiro contato do educando com o texto)
2. Leitura do texto dramático (livre leitura do texto entre os educandos)
3. Leitura Dramática do texto teatral para um público (envolve a divisão e elaboração de personagens, interferências com Luz e Trilha Sonora, apresentação em sala de espetáculo)
4. Produção de Encenação com texto lido (montagem com signos cênicos do texto que está sendo estudado, também em sala de espetáculo e para um público)
5. Análise e conclusões do grupo como espectador (debate interno sobre a encenação, como espectadores, ainda que tenham sido os artistas da obra encenada. Elaboração de conclusões acertadas em debate)
6. Produção de um outro texto dramático pelo grupo (este segundo texto não parte do primeiro, e sim das conclusões acertadas no debate sobre a recepção da encenação da obra anterior)

Esta estrutura foi desenvolvida após muitas discussões com o grupo de pesquisa. Nela aparecem os princípios da reciprocidade na recepção da obra de arte, em que o indivíduo é convidado a analisar a obra e fomentar através desta análise a produção de uma outra obra. Não é o fomento de um plagio, este segundo produto artístico parte das conclusões tiradas na análise da primeira obra encenada, e não da primeira obra em si.

Entretanto é uma estrutura que tem a proposta de ser aplicada no próximo projeto de iniciação científica que tem como problema a identificação do Sub Texto na concepção do texto dramático. É uma proposta pedagógica que só foi gerada e ainda será testada em campo nesse próximo projeto.

No Liceu, partimos de uma primeira metodologia que gerou esta segunda, explicada acima (ironicamente construída a partir de debates, da equipe pesquisadora, sobre a primeira metodologia que estava sendo aplicada), e é dividida em quatro momentos distintos:

I Momento: Leitura do Texto Dramático

“O tipo e modo de descrições (dos leitores) são diferentes e podem conter características de impressão, de fundo intelectual ou ideológico”.
Vodicka, 2002, P 189

Os educandos lêem livremente um Texto Dramático. Faz-se a divisão de personagens, e elege-se quem vai ser responsável por ler as rubricas do texto. Eles devem estar livres para ler dramaticamente ou não. É livre também o uso de ações físicas, para aqueles que quiserem levantar, fazer alguma intervenção como personagem, sempre lendo o texto.

II Momento: Coleta dos Sentidos Expressos

“O tipo e modo de descrições (dos leitores) são diferentes e podem conter características de impressão, de fundo intelectual ou ideológico”.
Vodicka, 2002, P 189


Os Orientadores das atividades vão propor que os educandos expressem as sensações que tiveram com a leitura do texto, dizendo o que gostaram, o que não gostaram, tecendo críticas, lendo os signos presentes na escritura literária, etc. Os alunos debatem, sem a interferência do orientador. Este estará registrando as falas dos indivíduos. Esta coleta será a matéria prima para o relatório que será feito posteriormente, em que, o pesquisador fará um ensaio sobre a recepção daquela obra de arte, analisando a postura crítica e as habilidades que o grupo tem para “compreender” o referido texto que foi lido.

III Momento: Discussão sobre poéticas para concepção da dramaturgia

Debate e discussões sobre textos teóricos que tenham como foco discutir as diversas maneiras de compor um texto dramático. É uma tentativa de elucidar questões e curiosidades que surjam nos educandos, à medida que estes forem tendo contato com os textos do gênero.

IV Momento: A Dramaturgia do Ator, ou Laboratório de Composição de Texto

Na primeira atividade (A Dramaturgia do ator), são aplicados exercícios de prática cênica em que os educandos têm a oportunidade de colocar em prática, conteúdos que haviam sido apenas reconhecidos nos textos dramáticos lidos. Na segunda atividade (Laboratório de Composição de Texto), o educando é convidado a fomentar o processo criativo com o intento de criar um texto dramático que contenha os elementos que já foram estudados na teoria.

Esses foram os caminhos metodológicos que encontramos para desenvolver as ações em campo. Formam então duas metodologias distintas. Estas são apenas propostas pedagógicas, as atividades e exercícios precisão ser construídas, criadas ou sistematizadas pela liderança do grupo. É preciso sempre muito planejamento e auto-avaliação para que não haja ruptura no processo de desenvolvimento dos sujeitos envolvidos e no fenômeno de ensino-aprendizagem.

Em verdade, estávamos trabalhando com três caminhos metodológicos diferentes. Os dois descritos acima, que são caminhos pedagógicos para aulas de teatro-educação, uma que estava sendo aplicada e uma que foi apenas desenvolvida e ao mesmo tempo uma terceira metodologia, a metodologia científica de que fizemos uso para avançarmos na geração de conhecimentos da pesquisa.

A metodologia Científica adotada era a de Pesquisa Ação. Com muito cuidado, os pesquisadores interferiram na produção de conhecimentos dos jovens daqueles grupos. O foco não era puramente observacional, ele se diluía, pois tentava de alguma forma sanar uma “déficite” que esses grupos tinham no que diz respeito ao conhecimento acerca de dramaturgias diversas. Ao mesmo tempo investigávamos o processo de aprendizagem, elaborando relatórios em que “avaliávamos” ou melhor, analisávamos a força expressiva que os sujeitos tinham em tornar públicas suas impressões sobre uma obra de arte. Reuníamos o grupo de pesquisa, além das aulas semanais em campo e os estudos desenvolvidos em casa, duas vezes por semana. Estas reuniões eram de avaliação do processo e de planejamento para as novas Ações em campo. O progresso da pesquisa nos fez perceber que se tratava muito mais de uma interferência sadia que contribuía livremente para a agregação de conhecimento por parte daqueles grupos, que uma interferência que pretendesse burilar as estruturas que tais grupos já possuíam. Que se tratava de uma metodologia que só acrescentaria conhecimentos a outros tantos que os grupos já possuem. E assim foi.

REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, Marcos Barbosa. Curral Grande: Construção de um texto dramático abordando o isolamento de flagelados no Ceará durante a seca de 1932. Salvador: Universidade Federal da Bahia. 2003. Dissertação de mestrado.
BIÃO, Armindo (org). Temas em contemporaneidade, imaginário e teatralidade. São Paulo: Anabiume: Salvador: Gipe-Cit, 2000.
BOAL, Augusto. Jogos para atores e não-atores. 14 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.
BARBOSA, Ana Mae (org). Arte-educação: Leitura no subsolo. 1 ed. São Paulo: Cortez, 1997.
DESGRANGES, Flávio. A pedagogia do espectador. São Paulo: Ed. Hucitec, 2003.
GOLDENBERG, Mirian. A arte de pesquisar: Como fazer pesquisa qualitativa em Ciências Sociais. Rio de Janeiro: Editora Record. 1997.
PALOTINI, Renata. Introdução a dramaturgia. Rio de Janeiro: Cortez, 1999.
PAVIS, Patrice. Dicionário de Teatro. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1999.
SOARES, Luis Cláudio Cajaíba. A encenação de Dramas de Língua Alemã na Bahia. Salvador: Universidade Federal da Bahia. 2005. Tese de doutorado
SPOLIN, Viola. Improvisação para o Teatro. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1979.
SPOLIN, Viola. Improvisação para o teatro. São Paulo: Perspectiva, 1982.
THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Cortez, 1988.
ROUBINE, Jean-Jacques. Introdução às grandes teorias do teatro. Rio de Janeiro. Jorge Zahar Editor: 2003.

NOMENCLATURA EM DRAMATURGIA

AÇÃO – Dentro de seus vários níveis, pode-se destacar:
Ação visível e invisível – Seqüência de acontecimentos cênicos produzidos em função das personagens. É ao mesmo tempo, o processo de transformação visível em cena, no nível das personagens o que caracteriza suas ações psicológicas ou morais.
Definição tradicional – É o conjunto de fatos e atos que compõem o assunto de uma obra dramática ou narrativa.
Ação falada – No teatro não é um simples caso de movimentação ou agitação cênica perceptível. Ela se situa , no interior das personagens em sua evolução psicológica, em suas decisões e logo em seus discursos.

ARGUMENTO - É o resumo da história contada na peça. Este é fornecido antes do espetáculo, para informar ao público a síntese da história a ser desenvolvida.
Na visão aristotélica serve para o dramaturgo como ponto de partida e idéia básica para a construção do texto teatral.
(Do latim argumentum, coisa mostrada ,dada,exposta.)

ATO - Divisão externa da peça em partes sensíveis e com igual importância em função do tempo e do desenrolar da ação.
(Do latim actus, ação.)

CONFLITO - O conflito dramático é o resultado de duas forças antagônicas, contrárias seja ante visões de mundo ou posturas ante uma mesma situação. Pode-se traduzir ainda como um combate individual ou filosófico entre personagens.

CRISE - Momento em que anuncia e prepara o nó, precede imediatamente o momento da catástrofe e do desenlace.
Há dramaturgos, que optam por mostrar o momento intenso da crise psicológica ou moral dos personagens, como no período clássico. Há outros que privilegiam os momentos da vida cotidiana como no período épico.

DESENLACE - Para a dramaturgia clássica, o desenlace se situa no fim da peça, exatamente após o ponto crucial. Ele é o episódio que definitivamente elimina conflitos e obstáculos, mas é necessário que conclua o drama de maneira verossímil.

DRAMATIZACÃO - Adaptar textos épicos ou líricos para textos dramáticos ou matéria destinado a encenação, ao palco.

DRAMATURGIA - De acordo com estudos clássicos este tremo significa “ arte de compor peças teatrais”. Alguns denominam técnica, outros poética da arte dramática.
A dramaturgia entre tantos outros conceitos pode ser ainda:
No sentido brechitiano, a estrutura ideológica da peça, e além de abranger o texto de origem, também abrange atributos cênicos que são colocados pela encenação.
Em outro sentido, a dramaturgia é a atividade do dramaturgo, que consiste também na criação e no agrupamento de material textual e cênico.
Dramaturgia então, consiste no conjunto das escolhas que toda a equipe de realização do trabalho foi levada a fazer, ou seja, a dramaturgia em seu sentido mais recente, começa a ultrapassar o âmbito de estudo do texto dramático para agregar texto e realização cênica.

(Do latim dramaturgia, compor um drama.)

ENSAIO - Fase preparatória do espetáculo, o momento do trabalho-aprendizagem do texto e do jogo cênico realizado pelos atores sob a direção do encenador.

INTRIGA - Conjunto das ações que formam o nó da peça. É o assunto da peça, o nó dos acontecimentos.

PERSONAGEM - Assumindo traços e a voz do ator, a persona- que no teatro grego corresponde ao papel dramático que o ator interpreta, adquire o significado de ser animado e de pessoa através da gramática.

RUBRICAS - Didascálias ou indicações cênicas- Instrução dadas pelo dramaturgo a seus atores para a interpretação do texto dramático. As didascálias contêm mais informações sobre a peça (datas, locais onde foram apresentadas, onde foram escritas).

TEMPO - Um dos elementos fundamentais do texto dramático, manifestação cênica da obra teatral.

Tempo cênico - É o mesmo tempo, aquele da representação que está se desenrolando no palco, como do espectador que está assistindo. Tempo vivido pelo espectador confrontado ao acontecimento teatral.
Tempo extracênico - Tempo da ficção do qual o espetáculo fala, a idéia de que algo se passa, se passou e se passará no possível mudo da ficção, porém no aqui e agora em frente aos nossos olhos (tempo presente).

TENSÃO - Tensão dramática é um fenômeno que liga episódios da fábula ao final da peça. Se produz por antecipação, para criar um certo suspense e assim uma tensão no espectador.

UNIDADE:

Unidade de ação - A ação é unificada quando toda a narrativa se organiza em torno de uma história principal, quando as intrigas são ligadas ao tronco, ou seja, ao corpo da fábula.

Unidade de lugar - Exige um único lugar onde o espectador possa ter condições de englobar todo o seu olhar para a peça.

Unidade de tempo - Está intimamente ligado à ação. Esta “regra”, contestada muitas vezes, exige que a ação representada como dizia Aristóteles, não exceda uma “revolução solar”, ou seja 24 horas.

VEROSSIMILHANÇA – Este conceito está ligado à recepção do espectador, que impõe ao dramaturgo que crie motivações na história da peça que produzam o efeito de verdade.
Para a dramaturgia clássica, verossimilhança é tudo que, nas ações, personagens, enfim na representação nos parece verdadeiro.

A identificação do subtexto

30 de outubro de 2005
PIBIC 2005 / 2006
Iniciação Científica
Bolsistas: Roberto de Abreu Schettini, Flávia Cristiana da Silva e Juliane do Rosário Melo
Orientação: Sérgio Farias


As atividades do projeto de iniciação científica 2005 – 2006, começaram como havia sido previsto pelo cronograma, com as leituras acerca dos conhecimentos que vão gerir o foco dado no desenvolvimento da investigação em campo: A identificação do subtexto.
As referências principais são: Stanislavski, estudioso da arte teatral, encenador, e pedagogo, idealizador de uma poética na interpretação que conseguisse arrebatar o ator, e por conseguinte o público, sob a luz da emoção conseguida através do minucioso estudo da partitura dramática; e Eugênio Kusnet, ator russo e autor do livro “Ator e Método”, importante na difusão-aplicação e sistematização dos ideais “stanislavskianos” no Brasil.
Feitas as leituras, o grupo de pesquisa se reuniu para discutir a importância do projeto e o material que havia sido lido. Entre outras questões abordadas pudemos esclarecer princípios que podem nos remeter à ligação que pretendemos fazer dos resultados deste projeto com a área de teatro-educação. Discutimos que, se partirmos do pressuposto de que toda informação é um texto e todo texto, antes de elaborado, tem uma motivação para a sua elaboração, fica claro o quanto é importante para o cidadão, homem, consciente e preocupado com os caminhos do desenvolvimento social, saber identificar estas motivações que são geradoras deste mundo-texto. Nenhuma mensagem é ingênua. Toda comunicação, se estabelece uma ligação entre um emissor e um receptor, tem uma motivação, um subtexto. E se partimos para a sala de aula para discutir e instrumentalizar os educandos na busca dos subtextos de nossa dramaturgia estará não só instrumentalizando o estudante de teatro para o teatro, mas sim para a vida.
Em campo fomos recebidos com muita hospitalidade pelo colégio Manoel Novaes. O contato foi estabelecido através da professora Andréa, que coordena as oficinas de teatro realizadas no espaço. Como ela está de licença para realizar os estudos do mestrado, fizemos o acordo de assumir o grupo da manhã, o qual ela não pode assessorar, até o fim do ano letivo. À nossa disposição uma sala e uma pequena biblioteca do grupo. Grupo composto por 14 jovens que estudam no turno vespertino e freqüentam a oficina no turno matutino. Concluídas as negociações fomos a campo.
O primeiro encontro com aspecto de primeiro encontro. Neste primeiro contato aproveitamos o espaço para apresentar o projeto de pesquisa e a equipe de pesquisadores. Numa grande troca, foi aplicado um jogo dramático para que pudéssemos nos conhecer melhor, neste jogo os estudantes cantaram, falaram algumas histórias de suas vidas com teatro e família, declamaram poesias, entre outras coisas. Para finalizar lemos um texto, um conto. O jogo consistia em cada um ler um parágrafo do conto, e terminada a leitura cada um devia reproduzir uma parte da história até que o enredo tivesse sido contado por completo por todos juntos (análise ativa).
A partir deste dia, começamos os encontros ordinários às segundas e sextas das 10 horas da manhã às 12 horas. Em duas horas de atividade, o resultado é pequeno ainda, mas sentimos a necessidade de manter o tempo de duração, ao menos inicialmente, para que fosse criada uma familiaridade com o grupo, que já não tem 14 integrantes desde a primeira reunião e sim 7 membros. Enquanto isso, íamos definindo o texto que iríamos trabalhar com o grupo na aplicação da metodologia para o estudo do texto no teatro, que desenvolvemos no projeto anterior, e chegamos finalmente a um texto de Millôr Fernandes, que se chama “A história é uma istória – e o homem é o único animal que ri”.
Entramos numa grande dialética para escolher o texto que seria estudado, mas foi consenso que ele deveria atender as seguintes expectativas: atualidade quanto à temática abordada, escrito por um autor nacional, proximidade com a linguagem dos educandos e potencialidade para identificação dos subtextos. O texto escolhido, para nossa satisfação atendia à todas as necessidades.
“A história é uma istória (...)” é uma comédia que conta como se aprende mal a história mundial. Desmistifica várias curiosidades e sensos-comuns formados ao logo da história e assume uma postura humana diante da construção de personalidades históricas que se tornaram cânones nos ditames de valores para a sociedade.
Durante a escolha do texto a equipe de pesquisa ofereceu um módulo de oficinas onde foram incluídas diversas atividades de preparação do ator que envolvia desde exercícios de práticas da expressividade corporal até estudos de mesa e aplicação de análises ativas de micro-textos. Depois da escolha começamos a oferecer material didático para subsidiar o entendimento do texto de Millôr, este material se propunha a questionar e avaliar a história com um olhar menos crítico que o olhar do dramaturgo.
Agora estamos desenvolvendo o primeiro passo da Metodologia: leitura individual do texto, onde os educandos, de posse do texto, fazem a leitura do mesmo em casa.
Nossa avaliação é de que o grupo está realmente contribuindo e progredindo com as atividades. O próximo passo é aumentar a quantidade de registros das atividades para posterior análise. Vamos gravar áudio das discussões sobre o texto na identificação das mensagens subliminares, fazer entrevistas com roteiros semi estruturados, e no fim do ano letivo uma avaliação geral com todos. Pretendemos conseguir completar o ciclo da metodologia com o tempo que nos resta, que é pouco, mas ainda que não consigamos chegar na encenação, já teremos um bom material para avaliar os impactos da instrumentalização destes estudantes na análise crítica e interpretação de textos.