quinta-feira, 20 de maio de 2010

A IMPORTÂNCIA DOS SENTIDOS EXPRESSOS PARA A FORMAÇÃO DO CIDADÃO.

ESTUDANTE(S):
Carla Bastos da Silva / Escola de Teatro (CNPq) - UFBA Daniele Cristina Oliveira / Escola de Teatro - UFBA


ORIENTADOR(A)
Sérgio Coelho Borges Farias / Escola de Teatro - UFBA


RESUMO DO TRABALHO:
O presente trabalho tem como objetivo dar suporte teórico e prático sobre dramaturgia aos grupos da comunidade do Vale do Capão - BA, proporcionando a eles leituras de textos dramáticos e análise desses com a composição de uma metodologia na aplicação do teatro na educação instrumental. Tratando o estudo da dramaturgia como fator preponderante na construção da obra teatral que será sistematizada a partir da experiência prática e pedagógica. Com intuito de contribuir para uma melhor qualidade das encenações teatrais através da "leitura branca, leitura dramática e encenação de um texto dramático". Através dessa metodologia aplicada temos como objetivo permitir envolver o cidadão no refletir e produzir arte, na valorização dos bens culturais em sua diversidade, ampliando conseqüentemente os mecanismos de participação e mobilidade social dos indivíduos envolvidos no processo. Os valores culturais existentes foram merecedores de atenção com vista a possibilitar a reflexão sobre a produção cultural do local e do desenvolvimento de novas formas de vivências na construção de textos dramáticos baseados na realidade histórica. Acreditando no teatro como elemento mediador para o fortalecimento da identidade sócio-cultural dessas pessoas, essa pesquisa será de grande contribuição para novas percepções e atuações dos cidadãos envolvidos no processo.
PALAVRAS CHAVE: Teatro-educação, Dramaturgia, Recepção
TÍTULO DO PROJETO DO ORIENTADOR: A Dramaturgia e os Sentidos Expressos por jovens espectadores de Teatro na Bahia

A PRODUÇÃO DE ENCENAÇÕES COM DRAMATURGIAS DIVERSAS, E A IMPORTÂNCIA DOS SENTIDOS EXPRESSOS PARA A FORMAÇÃO DO CIDADÃO

ESTUDANTE(S):
Daniele Cristina Oliveira / Escola de Teatro (CNPq) - UFB A Daiseane da Silva Andrade / Escola de Teatro (CNPq) - UFBA

ORIENTADOR(A):
Sérgio Coelho Borges Farias / Escola de Teatro - UFBA


RESUMO DO TRABALHO:
A pesquisa "A Dramaturgia e os Sentidos Expressos por Jovens Espectadores de Teatro da Bahia" tem como problema focai, a dificuldade do ensino de teatro na educação e o estudo da dramaturgia e da recepção do educando espectador. Seu principal objetivo é a criação de uma metodologia para o ensino da arte teatral na educação instrumental fazendo da dramaturgia a base na construção da obra e também a produção de conhecimentos a cerca da recepção, percepção e expressão advindas da apreciação da obra teatral. O produto da pesquisa foi a criação de uma metodologia de ensino e pesquisa, com bases na metodologia de pesquisa participante, um processo de tratamento da dramaturgia, composto por seis fases e a criação de um jogo dramático composto por quatro fases, que propõe o desenvolvimento do educando como artista e cidadão focalizando a concepção do texto dramático.
PALAVRAS CHAVE: Dramaturgia, Recepção, Teatro-Educação
TÍTULO DO PROJETO DO ORIENTADOR: A Dramaturgia e os Sentidos Expressos por jovens Espectadores de Teatro da Bahia

As Artes Cênicas e a questão da formação da cidadania na sociedade contemporânea:

Sergio Coelho Borges Farias
Faculdade de Educação
Escola de Teatro
Universidade Federal da Bahia.

A sociedade brasileira, fundada numa estrutura social de contrastes, desigualdades e injustiças, encontra-se ainda baseada num sistema de barreiras que dificultam ou praticamente impedem a autonomia, a mobilidade e a ascensão social de amplos setores da população.

Um dos suportes desse quadro de relações de dependência e de dominação é o sistema de educação. Quando os integrantes desses setores populares têm acesso à educação formal, deparam-se com um ensino de baixa qualidade, que, em geral, ignora ou nega as identidades individuais e grupais, e não considera o ambiente social e a cultura própria do educando.

Novos paradigmas, entretanto, vêm se constituindo no campo da educação, indicando possibilidades da mesma acentuar valores humanísticos e formar sujeitos empreendedores, com múltiplas habilidades, incluindo as que se referem ao controle e à distribuição das informações.

A concepção de educação para a cidadania, componente de alguns desses paradigmas, surge no âmbito de um amplo movimento da sociedade civil, que parte da crítica da perspectiva assistencialista e da má qualidade da educação pública destinada às camadas populares, e que apresenta propostas para superação da condição subalterna dessas camadas, indicando possíveis caminhos em direção à sua autonomia.

O conceito de cidadania

Cidadão, no passado, era sinônimo de membro respeitável da sociedade. Nos tempos atuais o conceito de cidadão contempla todo membro da comunidade humana com direitos e deveres pessoais, universais, inalienáveis, naturais, transculturais, transhistóricos e transgeográficos.

É somente no século XIX que a questão dos direitos do homem assume um viés político, concretizando o acesso ao voto universal. No século XX, palco de lutas pela garantia dos direitos, da segurança econômica e social e da participação na distribuição da riqueza, constitui-se a cidadania social. O conceito de cidadania torna-se mais complexo envolvendo, ao mesmo tempo, o acesso a bens e serviços e a equalização social como garantia dos direitos.

É assim que se coloca inicialmente a questão da educação para a cidadania, que, para Balestreri, é educar para o reconhecimento da condição de direitos e deveres, independente de credo, raça, nação ou estrato social. Para o autor, é também educar para reconhecer e respeitar as diferenças no plano individual, combater os preconceitos, as discriminações, os privilégios no plano social. É educar para a luta política.

De acordo com essa conceituação, vemos que a educação para a cidadania deve ir além do nível discursivo, para ser exercida plenamente pela vivência, a partir de um conteúdo articulado com a ação transformadora do quadro social que se deseja aperfeiçoar.

Outro elemento que se apresenta como fundamental no tratamento da questão do direito a ter direitos (que, por sua vez, vão desde a moradia e a saúde, até a proteção ambiental) é a necessidade de articulação do direito à igualdade com o direito à diferença. Assim, a noção contemporânea de cidadania deve, hoje, incorporar as dimensões da subjetividade, do desejo, em suma, dos interesses.

Para o exercício da cidadania apoiada no direito a ter direitos, o caminho é, então, o tornar-se cidadão. Introduz-se, assim, uma nova dimensão, que é a de cidadania cultural, que incorpora a relação entre igualdade e diferenças na abordagem dos grupos étnico-culturais. É preciso garantir não só o acesso de todos aos bens obtidos ou construídos coletivamente (igualdade), mas também o direito de cada grupo étnico-cultural ter suas referências próprias, em geral resultantes de seu processo histórico, e não necessariamente comuns à maioria da população ou adotada oficialmente pelo Estado.

Sabemos que o acesso a bens e serviços, embora condição essencial para o exercício da cidadania, não garante o seu exercício pleno. O conhecimento sistemático, transmitido (e, por vezes, re-construído) via educação escolar, por exemplo, ao tempo em que se constitui num elemento importante na construção da cidadania, pode ser ensinado juntamente com hábitos e atitudes incompatíveis com uma prática cidadã. A idéia de que a equalização social se daria via democratização do acesso à Educação, encontra-se, hoje, superada.

Nesse contexto é que diversas instituições e grupos vêm, em todo o Brasil, desenvolvendo uma prática sócio-educativa alternativa com jovens e crianças, voltada para a formação da cidadania. De um modo geral, a prática dessas instituições tem as seguintes características:

• Utilizam metodologias inovadoras, de caráter interdisciplinar, com técnicas integrativas que proporcionam o diálogo entre educando e educador;
• Procuram integrar a família, o que só às vezes conseguem, e com muita dificuldade, nos processos de acompanhamento e avaliação da prática educacional;
• Desenvolvem um trabalho de reforço da auto-estima do educando, elemento fundamental para seu crescimento intelectual;
• Abordam a questão do significado da formação educacional como ferramenta para a mobilidade social.

Experiências de formação para a cidadania com arte-educação

Tendo como objetivo formar cidadãos conscientes de si, do outro, da realidade que os cerca e da sua capacidade de transformação, para que os mesmos venham a se inserir em práticas sociais de caráter solidário, é que diversas organizações, governamentais ou não governamentais, estimulam a percepção da igualdade e das diferenças, através da construção e reconstrução da identidade (ou identificação) cultural e da auto-estima. As artes cênicas aparecem como instrumentais privilegiados nesses processos de educação não-formal.

No Ceará, a Edisca – Escola de Dança e Integração Social para Criança e Adolescente realiza espetáculos com temas da cultura do Nordeste e com o povo nordestino como protagonista. Dora Andrade, sua diretora, vem mostrando nos palcos que é possível interferir no percurso de crianças e jovens que tinham as marcas do clima seco e da pobreza da região em que ela atua. São mais de 250 alunos que freqüentam a Edisca, com aulas de história da arte, teatro, canto e artes plásticas, além da dança. Eles recebem também atendimento médico, noções de higiene, alimentação e sexualidade, além de apoio aos estudos na rede formal de ensino. Alguns deles usam o que aprendem na Edisca para se colocarem no mercado de trabalho, assumindo, por vezes, o sustento da própria família. Entidades como essa demonstram que é possível realizar arte-educação numa perspectiva de formação para a cidadania, com recursos limitados. Projetos semelhantes estão sendo encaminhados pelo Ballet Stagium, de S. Paulo e pelo Grupo Corpo, de B. Horizonte.

Outra iniciativa é a da Associação Dançando para Não Dançar, do Rio. Thereza Aguilar, desde 1993, promove o ensino de balé clássico para moradores de sete favelas da cidade. Os alunos são crianças que vivem em situação de risco, e vários deles após a formação na Associação encaminham-se para Companhias de dança e alguns chegam a fazer estágios no exterior.

O Projeto Luar, na Baixada Fluminense, oferece aulas de dança clássica e contemporânea para cerca de 700 crianças e jovens. A Cia. Étnica de Dança e Teatro, também do Rio, realiza um trabalho com sessenta adolescentes no Morro do Andaraí reunindo movimentos oriundos das danças: clássica, afro-brasileira, indígena, oriental, e até das lutas, como explica Carmem Lux, graduada em Literatura e pós-graduada em Teatro. Carmem, coreógrafa autodidata que se considera uma performer, reconhece que usa e abusa dos movimentos corporais para discutir questões sociais de extrema gravidade, estimulando os alunos a usarem os espaços públicos, e impressionando pelo profissionalismo apesar da total falta de apoio material e financeiro. Agora o BNDES acena com a possibilidade de apoio ao trabalho de Carmem, o que já vem fazendo há cerca de três anos, a fundo perdido, com dezenas de projetos de cunho social, dentre eles, 81 iniciativas na área de arte-educação.

Algumas instituições apóiam trabalhos de arte-educação, como os Institutos Ayrton Senna e Credicard, e empresas como Petrobrás, Nestlé, Shell e até a Lufthansa. Por um lado, esse apoio garante um serviço, importante para a sociedade, que o Estado não vem sendo capaz de garantir, e, por outro lado, contribui para a formação de uma boa imagem das empresas perante a população.

Na Bahia, o Projeto Axé destaca-se entre as instituições que vêm promovendo a formação de jovens dos setores populares para a cidadania, através da arte. Marle Macedo, coordenadora de cultura e arte explica que a entidade não vê a arte apenas como meio auxiliar na educação, mas sim como educação em si. Segundo Marle, são várias as formas de acesso à arte no Axé: o aprendizado técnico e teórico, com vista à profissionalização dos educandos; a sensibilização, buscando por meio da informação e da apreciação propiciar a experiência estética; e a motivação para a prática artística através do contato direto e prazeroso do jovem com a arte.

O Axé, desde a sua criação, em 1990, esteve voltado para a educação de crianças em situação de rua, ou seja, rianças dormindo e sobrevivendo na rua, crianças que estavam fora da família, da escola e da comunidade. Com o tempo, foram sendo também envolvidas as famílias das crianças e foi surgindo uma demanda espontânea de jovens em risco social que continuavam a viver com suas famílias, em bairros periféricos de Salvador. O projeto foi então ganhando uma dimensão mais ampla. O Axé, atualmente, promove também a capacitação de educadores e agentes sociais, para utilização de sua metodologia.

A Fundac, Fundação da Criança e do Adolescente, órgão do Governo do Estado da Bahia, encarregado do atendimento ao menor infrator, além das atividades de escolarização e profissionalizantes, oferece uma série de oficinas de arte que atendem às necessidades de re-socialização dos adolescentes em privação de liberdade, na perspectiva da valorização do indivíduo (considerando-se toda a sua experiência de vida), e do desenvolvimento de sua auto-estima.

O Liceu de Artes e Ofícios desenvolveu, em conjunto com a Secretaria de Educação e a Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, durante quatro anos, o projeto Quem Ama Preserva. Oficinas de teatro foram realizadas em diversas escolas, envolvendo alunos professores e diretores. Delas resultou um texto que foi encenado por um grupo de atores contratados. O espetáculo intitulado Cuida bem de mim foi apresentado centenas de vezes, para um público de estudantes e professores, da maioria das escolas de ensino médio de Salvador e do interior do estado.

O tema colocado em pauta pelo Liceu era a depredação das escolas públicas, com desdobramentos referentes a suas possíveis causas e condicionantes. Os espectadores debatiam os temas abordados pelo espetáculo, após cada apresentação. Mesmo havendo um tema central, abordava-se, com o espetáculo, todas as questões referentes à escola pública, da questão salarial dos professores aos conflitos familiares vividos pelos alunos. Muitos desdobramentos desse trabalho de apreciação do espetáculo surgiram nas escolas, através de iniciativas concretas de cuidado com o espaço coletivo e de ações integradoras e cooperativas.

Os trabalhos desenvolvidos pelo Cria - Centro de Referência Integral para Adolescentes, em Salvador, estão baseados principalmente no teatro e enfocam temas sociais emergentes e de interesse dos jovens como sexualidade, educação, etnia, violência, discriminação, cidadania e meio ambiente, numa abordagem integrada, que articula aspectos bio-psico-sociais e culturais.

A metodologia adotada pelo Cria integra as linguagens artísticas em trabalhos de grupo, articulando o sentir, o pensar e o fazer, buscando o desenvolvimento da auto-estima, da criatividade e da consciência crítica, para exercício pleno da cidadania. Para isso o Cria recorre a procedimentos que consideram a integralidade do ser, e que consideram que o educando é dotado de um corpo pensante e de sentimentos, com múltiplas possibilidades de expressão e comunicação.

Muitas oficinas de teatro já foram realizadas pelo Cria, e dois grupos de teatro, A Tribo do Teatro e o Mais de Mil, estão em atividade constante, renovando-se a cada oficina. Suas apresentações são sempre seguidas de debate com a platéia, em escolas, centros de saúde e teatros. O Cria estende sua experiência também através da capacitação de professores da rede pública e de profissionais dos serviços de saúde, e da formação de jovens multiplicadores que passam a atuar como lideranças em suas escolas e comunidades.

Competências a serem desenvolvidas numa nova sociedade

Tendo em vista a necessidade de se respeitar a identidade cultural, que tipo de habilidade e de capacidade é preciso se desenvolver nos participantes dos processos educativos, para que esses indivíduos exerçam não só sua competência técnica, mas também sua criatividade e sua sensibilidade? E como a arte-educação pode contribuir com esse processo?

Robert e Michèle Root-Bernstein, autores do livro Lampejos de gênio (Sparks of Genius, Houghton Mifflin Co., 1999), indicam como fundamentais as capacidades de observação e de abstração, ressaltando que a articulação entre intelecto e intuição é fundamental para que o indivíduo exerça sua capacidade de imaginação.

A capacidade de perceber o mundo e criticá-lo, permite-nos discernir padrões adequados de ação social, abstrair princípios norteadores de conduta, estabelecer analogias, criar modelos próprios, individual e coletivamente, e promover inovações construtivas.

No que se refere ao ator, a capacidade de criar imagens é fundamental para seu trabalho. A visualização das falas, por exemplo, no processo de construção e interpretação de personagens, através do método da análise ativa (Stanislávski), requer agilidade de pensamento visual. Tendo que fazer isso em cena, o ator deve ser capaz de imaginar formas com os olhos abertos, sobrepondo-as a outras formas; formas que mudam de cor, tamanho, perspectiva, etc. O ator não pode, ou não deve, desenhar, ou traçar com os dedos os contornos da forma que precisa imaginar; nem é o caso de fechar os olhos, como muitas pessoas fazem para ver algo que não está materializado diante de si. Em suma, observar, imaginar, e criar são habilidades, dentre outras, que são aprendidas e aperfeiçoadas. A arte-educação baseada no teatro pode dar uma contribuição significativa para esse tipo de aprendizagem, além de ser um campo privilegiado para articulação entre intelecto e intuição.

Os procedimentos de leitura de um texto dramático, ou de um texto de história, bem como a apreciação de um espetáculo, podem, e devem, ser usados como recursos para o desenvolvimento da capacidade de imaginar. Um exercício de teatro, durante o qual alguns alunos contam seqüencialmente uma história enquanto outros a vão representando, é uma forma de se exercitar essa capacidade.

Costumamos utilizar também um exercício que inclui um relaxamento inicial, com o ator deitado, percebendo a sua respiração, as tensões do seu corpo, a relação do mesmo com o solo. Em seguida, os participantes são convidados a permanecerem com os olhos fechados, imaginarem uma grande superfície e a partir de nossas indicações irem compondo imagens, cenas e situações dramáticas, com cores, objetos, texturas, figuras humanas (personagens), dialogando com as mesmas, estabelecendo conflitos e elaborando finais para os enredos criados no campo do imaginário.

Define-se abstração como sendo a possibilidade de se considerar um objeto ou um grupo de objetos sob um ponto de vista, ao mesmo tempo em que se descartam todas as suas outras propriedades. Por outro lado, o movimento inverso também é fundamental para a percepção do objeto: a partir de um elemento, conseguir chegar ao conjunto, ao todo, elaborar conceitos, estabelecer relações e analogias, criar conceitos a respeito de dimensões que vão além do espaço e do tempo já conhecidos, elaborar sínteses (afinal, os espetáculos são expressões sintéticas de longos processos criativos coletivos) reconhecer padrões, o que, por sua vez, requer observação e análise.

Dos padrões que reconhecemos, retiramos princípios gerais de percepção e de ação e buscamos neles nossas expectativas. Introduzimos neles outras observações e experiências formando, então, novos padrões.

Formular abstrações é outra habilidade que pode ser desenvolvida em processos de arte-educação. Por exemplo, ao se criar uma cena, escolhe-se um tema e um ponto de vista; pensa-se de uma maneira realista sobre eles; brinca-se mentalmente com seus vários elementos, definindo-se, depois, o que é essencial; busca-se alternativas aos resultados obtidos, procurando-se um distanciamento deles; enuncia-se a abstração, escolhendo-se um meio ou uma linguagem para expressa-la, extraindo-se dela, em seguida, um conceito ou metáfora.

O elemento lúdico, muito presente na prática teatral, é também importante para a consecução do ato criativo. As idéias e a intuição são transformadas por meio dos vários mecanismos de pensamento e são expressas através de diferentes linguagens. O uso simultâneo de múltiplos instrumentos imaginativos revela um pensamento transformador, fundamental para o exercício da cidadania, que requer a fluência na comunicação.

Para alcançar a fluência nos processos de comunicação, por sua vez, é fundamental o estabelecimento da empatia. Em todos os campos de trabalho, como entre médico e paciente, entre vendedor e comprador, entre advogado e cliente, é preciso ocorrer identificação, empatia. Colocar-se no lugar do outro (algo que é praticado intensamente no teatro) é um caminho para se chegar à empatia. O ator pode desenvolver essa capacidade tanto nos exercícios de criação e interpretação de personagens, como através da apreciação de espetáculos e da leitura e análise de textos.

Natureza e sentido da arte-educação

As atividades educativas que envolvem a expressão artística, a dinâmica corporal e a experiência estética são a base para o educando organizar percepções, classificando e relacionando eventos, construindo, com todas as suas capacidades, um todo significativo.

Uma atenção do educador para o domínio afetivo do desenvolvimento, pode possibilitar ao estudante situar-se no processo educativo, de forma a constituir a sua própria filosofia de vida, a sua visão do universo, caracterizando-se. São atitudes e comportamentos que vão desde a percepção do que acontece no ambiente escolar, e a atenção seletiva, até a organização de um sistema de valores.

A educação do ser integral, para o exercício da cidadania, não deve, portanto, restringir os componentes de aprendizagem ao domínio cognitivo, ao desenvolvimento do intelecto. As técnicas e práticas corporais, as experiências de pensar com o corpo, presentes nos jogos e nos exercícios de improvisação das nossas oficinas de teatro são elementos para a vitalização e o equilíbrio do ser, de maneira articulada, em todos os níveis: físico, emocional, mental e espiritual.

O homem, que é entre os animais o único que possui a dimensão simbólica (a palavra), tem na linguagem o instrumento básico de ordenação e significação do mundo. O homem é o único ser que tem consciência de outras dimensões e outros tempos. A radical diferença entre o homem e os outros animais é a sua consciência reflexiva, simbólica.

O homem imprime sentido a suas ações, e à sua sobrevivência, o que não tem a ver só com a manutenção biológica da vida mas também com o significado do sentido da vida. O homem é capaz de construir valores, sonhos, ideais. Assim, compõe a sua vida exercendo as suas múltiplas capacidades: razão, sentimento, sensação e intuição. Com a supervalorização da razão, o homem compromete a sua evolução estética. E a evolução estética não se refere apenas à sua capacidade de fazer e apreciar arte, refere-se também a uma integração de todas as suas capacidades.

Além disso, o mecanismo de construção do conhecimento é um jogo dialético entre o que é sentido/vivido e o que é simbolizado. Garantir um lugar para a arte no processo educativo, partindo do que o educando já conhece e do que para ele é relevante, é um modo de ampliar as possibilidades de formação de um ser capaz de organizar percepções, classificando e relacionando eventos, construindo, com todas as suas capacidades, um todo significativo.

Uma atenção do educador para o domínio afetivo do desenvolvimento, pode possibilitar ao estudante situar-se no processo educativo, de forma a constituir a sua própria filosofia de vida, a sua visão do universo, caracterizando-se. São atitudes e comportamentos que vão desde a percepção do que acontece no ambiente escolar, e a atenção seletiva, até a organização de um sistema de valores.

Para a formação de sínteses, e seu entendimento, é preciso unir o componente estético das experiências sensoriais ao que o sujeito conhece (intelecto). O teatro-educação apresenta-se como meio privilegiado para se promover isso, na medida em que adota exercícios que praticamente fazem o sujeito pensar com o corpo, recorrendo a componentes de sua personalidade e articulando-os num trabalho criativo e de intenso grau de comunicação entre indivíduo e grupo e entre artista e público.

Dessa forma, uma educação que contemple os sentimentos, as sensações e a intuição, tanto quanto a razão, levando em conta o imaginário, os desejos e os sonhos dos educandos, uma educação que supere as tradicionais fronteiras estabelecidas entre as disciplinas, tem sido o caminho buscado por arte-educadores para a formação da cidadania, com a participação de todos os envolvidos como sujeitos da história.

A educação do ser integral deve visar, portanto, a vitalização e o equilíbrio do ser, de maneira articulada, em todos os níveis: físico, emocional, mental e espiritual. Desenvolvendo-se nos quatro níveis, de maneira articulada, buscando competências de ponta e dando um tratamento integrador aos conhecimentos construídos, o sujeito vai definindo e aperfeiçoando sua relação com o todo. Assim, ele se re-descobre como cidadão, redefine seu papel em cada instituição, em cada tribo a que está vinculado, situando-se na história como agente.

Diante do exposto, podemos dizer que coloca-se como desafio para os educadores, realizar um trabalho de conscientização (tomada de consciência mais ação) que desenvolva o senso estético de maneira associada ao senso crítico e à elevação da auto-estima, a partir da re-valorização das matrizes culturais de cada grupo social, para que o educando se constitua como sujeito político, capaz de compreender as relações estabelecidas na sociedade, questiona-las e perceber-se em condições de transforma-las.

A arte-educação, com base na metodologia triangular (história, apreciação, prática teatral) constitui-se, a nosso ver, um caminho para o aprendizado de um entendimento sintético. O grande desafio na formulação de novos paradigmas no campo da educação como um todo, é o de reintegrar os campos do conhecimento e rearticular o sentir e o saber, a análise, a emoção e a tradição, superando os limites do trabalho educativo baseado apenas no intelecto, na memória, no raciocínio lógico linear.

Todas essas capacidades mencionadas são importantes para o artista cênico, que vive cotidianamente o desafio de analisar textos, construir personagens, criar coletivamente espetáculos, e comunicar-se com o público.

A criação de uma proposta metodológica reunindo os elementos mencionados acima, na prática artística, e associando essa prática ao estudo da história da criação artística e à apreciação do espetáculo, visando a formação do jovem ator para a cidadania, constitui-se, num grande desafio para os que se dedicam atualmente ao Teatro-Educação.

Sugestões de Leitura / Bibliografia:

BARBOSA, Ana Mae. Arte-Educação: conflitos/acertos. SP: Max Limonad, 1985.
_______________. Teoria e Prática da Educação Artística. S.Paulo: Cultrix, 1990.
_______________. A imagem no ensino da arte. S. Paulo: Perspectiva, 1996.
_______________. Tópicos Utópicos. B. Horizonte: C/ Arte, 1998.
CABRAL, Beatriz (Org) Ensino do teatro: experiências interculturais. Florianópolis: Imprensa Universitária, 1999.
COURTNEY, Richard. Jogo, teatro e pensamento. SP : Perspectiva, 1980.
DOURADO, Paulo e MILET, Maria Eugênia. Manual de criatividades. Salvador; Funceb: EGB, 1997.
DUARTE Jr. , Por que arte-educação? . Campinas: Papirus, 1986.
__________. Fundamentos estéticos da Educação . Campinas: Papirus, 1988.
FUSARI, Maria R. e FERRAZ, Maria H. Metodologia do ensino de arte. S.Paulo: Cortez, 1993.
GIROUX, Henry. Escola crítica e política cultural. S. Paulo: Cortez, 1987.
GONÇALVES ALMEIDA, Fernanda. De olho na rua: O Axé integrando crianças em situação de risco. Salvador: EdUFBA, 2000.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 1998.
KOUDELA, Ingrid Dormien(Org).Um vôo brechtiano. S. Paulo: Perspectiva: Fapesp, 1992.
________________________. Jogos teatrais. S. Paulo: Perspectiva, 1984.
________________________. Teatro e Jogo. S. Paulo: Perspectiva, 1996.
LINHARES, Angela Maria B. O tortuoso e doce caminho da sensibilidade: um estudo sobre arte e educação. Ijuí, RS: Ed. Unijuí, 1999.
MELO, Liana. “Balé da cidadania. Experiências educacionais bem sucedidas usam a dança como instrumento de inclusão social”. Revista IstoÉ, n. 1632, 10/1/2001, pp 40-42.
MOREIRA, Antônio Flávio e SILVA, Tomaz Tadeu da (Orgs). Currículo, Cultura e Sociedade. S. Paulo: Cortez, 1999.
PACHECO, Elza Dias. (Org). Comunicação, Educação e Arte na cultura infanto-juvenil. S.Paulo: Loyola, 1991.
READ, Herbert. A educação pela arte. S. Paulo: Martins Fontes, 1982.
________. A redenção do robô: meu encontro com a educação através da arte. S. Paulo: Summus, 1986.
UNICEF, CEAO, FCM, P. AXÉ, FUNDAC, CRIA, MOC. Distintos olhares da cidadania. Salvador: Unicef, 1998.

PLANO DE TRABALHO Da Recepção à Expressão, um caminho possível

Ferdinando Taviani em artigo publicado em “A Arte Secreta do ator”, propõe: “Um corolário: para fazer bom teatro deve-se ter coisas interessantes a dizer e deve-se saber como fazê-las e ser compreendido” (BARBA, 1995, p. 256). A proposta deste plano de trabalho é fazer com que as “coisas interessantes” ditas sejam uma expressão da criação e da recepção de jovens que atuam no teatro baiano em instituições de ensino fomais e não-formais.
O plano de trabalho do bolsista Roberto Ives Abreu Schettini leva em consideração a articulação de dois elementos aparentemente distintos: recepção e expressão. Este diz respeito à produção da arte, aquele se refere à apreciação da arte. Esses elementos são ao menos aparentemente distintos, porque é possível, refletir sobre a criação do artista observando que sua inventividade está intimamente ligada a suas experiências e apreensões que faz do mundo, e, por que não, de outras obras de arte. Neste aspecto o esquema recepção para expressão, constitui um sistema para a produção da arte.
O objetivo deste plano de trabalho dentro do projeto era fomentar a criação que partisse da recepção. Dois tipos de produtos eram esperados: produção de encenação e produção de textos dramáticos. Tudo a partir da aplicação do Método da Análise Ativa. O importante em campo seria fomentar que a partir da recepção afetiva da arte, o educando fosse capaz de criar obras de arte experimentando a livre fluência como meio de expressão.
Como resultados alcançados neste plano de trabalho, aqui estão representadas as sistematizações e reflexões acerca desta criação artística que encontra na recepção o ponto de partida para a expressividade, conectando este processo de criação com o desenvolvimento do domínio afetivo dos sujeitos em questão.