domingo, 4 de outubro de 2009

A METODOLOGIA CÍCLICA PARA AULAS DE DRAMATURGIA EM GRUPOS DE TEATRO

PIBIC 2005 / 2006
Iniciação Científica
Bolsistas: Roberto de Abreu Schettini, Flávia Cristiana da Silva e Juliane do Rosário Melo
Orientação: Sérgio Farias

Geramos uma metodologia, um caminho pedagógico para nortear o trabalho de professores, diretores e lideranças de grupos de teatro, que tenham interesse em garimpar a seara da dramaturgia. Um caminho espiral. Chega a um suposto final, e retoma novamente seu princípio, o cerne de partida das atividades: o texto teatral. É, em verdade, um processo, uma matriz pedagógica para que se encaminhem aulas de teatro voltadas para o conhecimento do gênero dramático. Segue a descrição:

Este caminho tem início com a leitura individual do texto pelo educando em casa, como passo à frente, uma leitura coletiva entre os educandos, em seguida a produção de uma leitura dramática com estes mesmos indivíduos diante de um público, a produção de uma encenação com o texto que foi lido, a análise deste grupo enquanto espectador dessa obra, e a produção de um texto dramático que tenha como ponto de partida as análises feitas pelo grupo como espectador do texto encenado. A partir deste ponto o caminho volta a ser percorrido do início. Lê-se o texto dramático que foi produzido, faz-se uma leitura dramática entre os educandos para um público, elabora-se a encenação deste mesmo texto dramático, analisa-se a encenação como espectadores, dessa análise, produz-se um outro texto dramático, e repete-se o caminho.

Então:

1. Leitura Individual em casa (primeiro contato do educando com o texto)
2. Leitura do texto dramático (livre leitura do texto entre os educandos)
3. Leitura Dramática do texto teatral para um público (envolve a divisão e elaboração de personagens, interferências com Luz e Trilha Sonora, apresentação em sala de espetáculo)
4. Produção de Encenação com texto lido (montagem com signos cênicos do texto que está sendo estudado, também em sala de espetáculo e para um público)
5. Análise e conclusões do grupo como espectador (debate interno sobre a encenação, como espectadores, ainda que tenham sido os artistas da obra encenada. Elaboração de conclusões acertadas em debate)
6. Produção de um outro texto dramático pelo grupo (este segundo texto não parte do primeiro, e sim das conclusões acertadas no debate sobre a recepção da encenação da obra anterior)

Esta estrutura foi desenvolvida após muitas discussões com o grupo de pesquisa. Nela aparecem os princípios da reciprocidade na recepção da obra de arte, em que o indivíduo é convidado a analisar a obra e fomentar através desta análise a produção de uma outra obra. Não é o fomento de um plagio, este segundo produto artístico parte das conclusões tiradas na análise da primeira obra encenada, e não da primeira obra em si.

Entretanto é uma estrutura que tem a proposta de ser aplicada no próximo projeto de iniciação científica que tem como problema a identificação do Sub Texto na concepção do texto dramático. É uma proposta pedagógica que só foi gerada e ainda será testada em campo nesse próximo projeto.

No Liceu, partimos de uma primeira metodologia que gerou esta segunda, explicada acima (ironicamente construída a partir de debates, da equipe pesquisadora, sobre a primeira metodologia que estava sendo aplicada), e é dividida em quatro momentos distintos:

I Momento: Leitura do Texto Dramático

“O tipo e modo de descrições (dos leitores) são diferentes e podem conter características de impressão, de fundo intelectual ou ideológico”.
Vodicka, 2002, P 189

Os educandos lêem livremente um Texto Dramático. Faz-se a divisão de personagens, e elege-se quem vai ser responsável por ler as rubricas do texto. Eles devem estar livres para ler dramaticamente ou não. É livre também o uso de ações físicas, para aqueles que quiserem levantar, fazer alguma intervenção como personagem, sempre lendo o texto.

II Momento: Coleta dos Sentidos Expressos

“O tipo e modo de descrições (dos leitores) são diferentes e podem conter características de impressão, de fundo intelectual ou ideológico”.
Vodicka, 2002, P 189


Os Orientadores das atividades vão propor que os educandos expressem as sensações que tiveram com a leitura do texto, dizendo o que gostaram, o que não gostaram, tecendo críticas, lendo os signos presentes na escritura literária, etc. Os alunos debatem, sem a interferência do orientador. Este estará registrando as falas dos indivíduos. Esta coleta será a matéria prima para o relatório que será feito posteriormente, em que, o pesquisador fará um ensaio sobre a recepção daquela obra de arte, analisando a postura crítica e as habilidades que o grupo tem para “compreender” o referido texto que foi lido.

III Momento: Discussão sobre poéticas para concepção da dramaturgia

Debate e discussões sobre textos teóricos que tenham como foco discutir as diversas maneiras de compor um texto dramático. É uma tentativa de elucidar questões e curiosidades que surjam nos educandos, à medida que estes forem tendo contato com os textos do gênero.

IV Momento: A Dramaturgia do Ator, ou Laboratório de Composição de Texto

Na primeira atividade (A Dramaturgia do ator), são aplicados exercícios de prática cênica em que os educandos têm a oportunidade de colocar em prática, conteúdos que haviam sido apenas reconhecidos nos textos dramáticos lidos. Na segunda atividade (Laboratório de Composição de Texto), o educando é convidado a fomentar o processo criativo com o intento de criar um texto dramático que contenha os elementos que já foram estudados na teoria.

Esses foram os caminhos metodológicos que encontramos para desenvolver as ações em campo. Formam então duas metodologias distintas. Estas são apenas propostas pedagógicas, as atividades e exercícios precisão ser construídas, criadas ou sistematizadas pela liderança do grupo. É preciso sempre muito planejamento e auto-avaliação para que não haja ruptura no processo de desenvolvimento dos sujeitos envolvidos e no fenômeno de ensino-aprendizagem.

Em verdade, estávamos trabalhando com três caminhos metodológicos diferentes. Os dois descritos acima, que são caminhos pedagógicos para aulas de teatro-educação, uma que estava sendo aplicada e uma que foi apenas desenvolvida e ao mesmo tempo uma terceira metodologia, a metodologia científica de que fizemos uso para avançarmos na geração de conhecimentos da pesquisa.

A metodologia Científica adotada era a de Pesquisa Ação. Com muito cuidado, os pesquisadores interferiram na produção de conhecimentos dos jovens daqueles grupos. O foco não era puramente observacional, ele se diluía, pois tentava de alguma forma sanar uma “déficite” que esses grupos tinham no que diz respeito ao conhecimento acerca de dramaturgias diversas. Ao mesmo tempo investigávamos o processo de aprendizagem, elaborando relatórios em que “avaliávamos” ou melhor, analisávamos a força expressiva que os sujeitos tinham em tornar públicas suas impressões sobre uma obra de arte. Reuníamos o grupo de pesquisa, além das aulas semanais em campo e os estudos desenvolvidos em casa, duas vezes por semana. Estas reuniões eram de avaliação do processo e de planejamento para as novas Ações em campo. O progresso da pesquisa nos fez perceber que se tratava muito mais de uma interferência sadia que contribuía livremente para a agregação de conhecimento por parte daqueles grupos, que uma interferência que pretendesse burilar as estruturas que tais grupos já possuíam. Que se tratava de uma metodologia que só acrescentaria conhecimentos a outros tantos que os grupos já possuem. E assim foi.

REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, Marcos Barbosa. Curral Grande: Construção de um texto dramático abordando o isolamento de flagelados no Ceará durante a seca de 1932. Salvador: Universidade Federal da Bahia. 2003. Dissertação de mestrado.
BIÃO, Armindo (org). Temas em contemporaneidade, imaginário e teatralidade. São Paulo: Anabiume: Salvador: Gipe-Cit, 2000.
BOAL, Augusto. Jogos para atores e não-atores. 14 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.
BARBOSA, Ana Mae (org). Arte-educação: Leitura no subsolo. 1 ed. São Paulo: Cortez, 1997.
DESGRANGES, Flávio. A pedagogia do espectador. São Paulo: Ed. Hucitec, 2003.
GOLDENBERG, Mirian. A arte de pesquisar: Como fazer pesquisa qualitativa em Ciências Sociais. Rio de Janeiro: Editora Record. 1997.
PALOTINI, Renata. Introdução a dramaturgia. Rio de Janeiro: Cortez, 1999.
PAVIS, Patrice. Dicionário de Teatro. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1999.
SOARES, Luis Cláudio Cajaíba. A encenação de Dramas de Língua Alemã na Bahia. Salvador: Universidade Federal da Bahia. 2005. Tese de doutorado
SPOLIN, Viola. Improvisação para o Teatro. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1979.
SPOLIN, Viola. Improvisação para o teatro. São Paulo: Perspectiva, 1982.
THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Cortez, 1988.
ROUBINE, Jean-Jacques. Introdução às grandes teorias do teatro. Rio de Janeiro. Jorge Zahar Editor: 2003.

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