domingo, 4 de outubro de 2009

A identificação do subtexto

30 de outubro de 2005
PIBIC 2005 / 2006
Iniciação Científica
Bolsistas: Roberto de Abreu Schettini, Flávia Cristiana da Silva e Juliane do Rosário Melo
Orientação: Sérgio Farias


As atividades do projeto de iniciação científica 2005 – 2006, começaram como havia sido previsto pelo cronograma, com as leituras acerca dos conhecimentos que vão gerir o foco dado no desenvolvimento da investigação em campo: A identificação do subtexto.
As referências principais são: Stanislavski, estudioso da arte teatral, encenador, e pedagogo, idealizador de uma poética na interpretação que conseguisse arrebatar o ator, e por conseguinte o público, sob a luz da emoção conseguida através do minucioso estudo da partitura dramática; e Eugênio Kusnet, ator russo e autor do livro “Ator e Método”, importante na difusão-aplicação e sistematização dos ideais “stanislavskianos” no Brasil.
Feitas as leituras, o grupo de pesquisa se reuniu para discutir a importância do projeto e o material que havia sido lido. Entre outras questões abordadas pudemos esclarecer princípios que podem nos remeter à ligação que pretendemos fazer dos resultados deste projeto com a área de teatro-educação. Discutimos que, se partirmos do pressuposto de que toda informação é um texto e todo texto, antes de elaborado, tem uma motivação para a sua elaboração, fica claro o quanto é importante para o cidadão, homem, consciente e preocupado com os caminhos do desenvolvimento social, saber identificar estas motivações que são geradoras deste mundo-texto. Nenhuma mensagem é ingênua. Toda comunicação, se estabelece uma ligação entre um emissor e um receptor, tem uma motivação, um subtexto. E se partimos para a sala de aula para discutir e instrumentalizar os educandos na busca dos subtextos de nossa dramaturgia estará não só instrumentalizando o estudante de teatro para o teatro, mas sim para a vida.
Em campo fomos recebidos com muita hospitalidade pelo colégio Manoel Novaes. O contato foi estabelecido através da professora Andréa, que coordena as oficinas de teatro realizadas no espaço. Como ela está de licença para realizar os estudos do mestrado, fizemos o acordo de assumir o grupo da manhã, o qual ela não pode assessorar, até o fim do ano letivo. À nossa disposição uma sala e uma pequena biblioteca do grupo. Grupo composto por 14 jovens que estudam no turno vespertino e freqüentam a oficina no turno matutino. Concluídas as negociações fomos a campo.
O primeiro encontro com aspecto de primeiro encontro. Neste primeiro contato aproveitamos o espaço para apresentar o projeto de pesquisa e a equipe de pesquisadores. Numa grande troca, foi aplicado um jogo dramático para que pudéssemos nos conhecer melhor, neste jogo os estudantes cantaram, falaram algumas histórias de suas vidas com teatro e família, declamaram poesias, entre outras coisas. Para finalizar lemos um texto, um conto. O jogo consistia em cada um ler um parágrafo do conto, e terminada a leitura cada um devia reproduzir uma parte da história até que o enredo tivesse sido contado por completo por todos juntos (análise ativa).
A partir deste dia, começamos os encontros ordinários às segundas e sextas das 10 horas da manhã às 12 horas. Em duas horas de atividade, o resultado é pequeno ainda, mas sentimos a necessidade de manter o tempo de duração, ao menos inicialmente, para que fosse criada uma familiaridade com o grupo, que já não tem 14 integrantes desde a primeira reunião e sim 7 membros. Enquanto isso, íamos definindo o texto que iríamos trabalhar com o grupo na aplicação da metodologia para o estudo do texto no teatro, que desenvolvemos no projeto anterior, e chegamos finalmente a um texto de Millôr Fernandes, que se chama “A história é uma istória – e o homem é o único animal que ri”.
Entramos numa grande dialética para escolher o texto que seria estudado, mas foi consenso que ele deveria atender as seguintes expectativas: atualidade quanto à temática abordada, escrito por um autor nacional, proximidade com a linguagem dos educandos e potencialidade para identificação dos subtextos. O texto escolhido, para nossa satisfação atendia à todas as necessidades.
“A história é uma istória (...)” é uma comédia que conta como se aprende mal a história mundial. Desmistifica várias curiosidades e sensos-comuns formados ao logo da história e assume uma postura humana diante da construção de personalidades históricas que se tornaram cânones nos ditames de valores para a sociedade.
Durante a escolha do texto a equipe de pesquisa ofereceu um módulo de oficinas onde foram incluídas diversas atividades de preparação do ator que envolvia desde exercícios de práticas da expressividade corporal até estudos de mesa e aplicação de análises ativas de micro-textos. Depois da escolha começamos a oferecer material didático para subsidiar o entendimento do texto de Millôr, este material se propunha a questionar e avaliar a história com um olhar menos crítico que o olhar do dramaturgo.
Agora estamos desenvolvendo o primeiro passo da Metodologia: leitura individual do texto, onde os educandos, de posse do texto, fazem a leitura do mesmo em casa.
Nossa avaliação é de que o grupo está realmente contribuindo e progredindo com as atividades. O próximo passo é aumentar a quantidade de registros das atividades para posterior análise. Vamos gravar áudio das discussões sobre o texto na identificação das mensagens subliminares, fazer entrevistas com roteiros semi estruturados, e no fim do ano letivo uma avaliação geral com todos. Pretendemos conseguir completar o ciclo da metodologia com o tempo que nos resta, que é pouco, mas ainda que não consigamos chegar na encenação, já teremos um bom material para avaliar os impactos da instrumentalização destes estudantes na análise crítica e interpretação de textos.

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