sábado, 20 de março de 2010

A Dramaturgia nossa de cada dia

PIBIC 2004 – 2005
Artigo 2 de ROBERTO DE ABREU

A Dramaturgia nossa de cada dia


Desde muito tempo tenta-se estabelecer normas e fórmulas bem acabadas, para se traçar as diretrizes da criação do Texto Dramático. Entretanto, cabe ao artista, que começa a enveredar pelo exercício de conceber situações dramáticas, perceber que os elementos que compõem o drama (preconizados desde Aristóteles na antiguidade clássica), estão, o tempo inteiro, presentes na vida do homem, o que traduz a obsessão compulsiva de observação pelos dramaturgos, das relações humanas.

Luis Alberto de Abreu, dramaturgo contemporâneo, numa de suas conferências sobre Dramaturgia, disse categoricamente: “Dramaturgia não é texto”. Sábias palavras. A Dramaturgia não faz do dramaturgo um “tipo” peculiar de escritor. O dramaturgo é, sim, um artista que não é um pleno literato tampouco um pleno encenador, mas a fusão sensível dos dois.

A Dramaturgia pode ser considerada, assim, lato sensu, como a arte de organizar uma idéia dramaticamente num eixo sintagmático, mesmo que este eixo pareça caótico. E, partindo deste princípio, não só o Autor Teatral é um dramaturgo, mas também o são o Encenador e o Ator, estabelecendo uma relação intrincada numa dialética constante com os públicos.

A Dramaturgia não é somente texto. Nós a encontramos nas situações mais diversas de todos os dias, articuladas com a Música, as Artes Plásticas, a Dança. Esta última tem se aproximado cada vez mais do Teatro através da Dança Contemporânea. No caso da música, para quê exemplo mais claro que Geni e o Zeppelin, de Chico Buarque? Não por seu caráter épico, mas pela forma com que o compositor apresenta o encadeamento dos fatos e como os organiza naturalmente, neste caso, com um princípio de causalidade.
Importante configurar ainda a sutil distinção entre a obra dramática e a obra com características dramáticas. A Dramaturgia não está centrada simplesmente na presença de um conflito e uma tensão, mas na elaboração sintagmática de uma trama, uma intriga, e sua influência na dinâmica orgânica do conflito entre as personagens.
Todos nós temos histórias para contar. E a cada vez que contamos uma de nossas histórias, nos re-afirmamos pela nossa dramaturgia particular, fruto da forma que o mundo nos ensinou a contar nossas fábulas. Quando vivemos nossas histórias, estamos sempre sob a égide criadora de um dramaturgo, para alguns o destino, para outros, Deus, o Diabo, os Orixás, os Anjos ou nós mesmos. Não importa, estaremos sempre inventando e re-inventando a Vida e a Arte.

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